Os dias parecem mais longos em San Bernardino. Faço exercícios, leio e dou longas caminhadas em volta do lago, porém estou sempre entediado e com tempo sobrando. Tento matar as horas de todas as formas, mas elas resistem. Procuro arranjar assuntos com os funcionários do hotel e até com estranhos na rua, só para não enlouquecer, no entanto, não se pode conversar para sempre sobre as futilidades do cotidiano.
Estive pensando em me mudar depois de uma conversa que tive com Benites. Eu liguei só para bater papo e esquecer do marasmo, mas ele acabou revelando um telefonema que poderia mudar minha vida. O coronel recebeu a ligação de um boliviano que representava o departamento de Santa Cruz, uma região rica e separatista da Bolívia. Ele disse que o homem lhe ofereceu um trabalho para treinar a militância oposicionista ao presidente Evo Morales. Os governantes do departamento pensavam alto: milícias armadas e até o assassinato do chefe de estado.
Benites recusou a oferta, por ser muito perigosa, mas eu me ofereci para o emprego. Ele achou graça, mas quando percebeu que eu falava sério, tentou me dissuadir. Avisou que era arriscado demais e que os golpistas estavam destinados ao fracasso. Eu insisti. O coronel me aconselhou: - Vargas, você deve ter enlouquecido depois que ficou velho. Justo você, que sempre soube apostar nos vencedores. Eu te digo a verdade, esses golpistas vão se dar mal e se te pegaram junto com eles... Aproveite o resto de sua vida, fique em San Bernardino.
Não me importei com seus avisos e pedi que ele me arrumasse o emprego. Benites, contrariado, concordou em me ajudar. Prometeu ligar quando tivesse novidades.
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