Animado com a possibilidade de ir à Bolívia, ajudar na “liberação” de Santa Cruz, passei a ler tudo sobre o país. Comprei jornais, usei a vagarosa internet do hotel e até consegui alguns livros sobre a guerra entre o Paraguai e Bolívia. A situação no país piora a cada semana. Evo Morales já descobriu um plano para assassiná-lo, comandado pelos políticos do departamento de Santa Cruz. O plano usava assassinos estrangeiros, o que gerou uma trapalhada internacional. O governo boliviano mandou tropas para o estado, supostamente para reforçar a segurança na fronteira com o Brasil, depois que uma vala com seis brasileiros mortos foi achada. A Bolívia está à beira do abismo, com o separatismo e as potências locais empurrando-a cada vez mais para a beirada.
Não parava de chover em San Bernardino e o céu permanecia sempre cinzento. Apesar de o inverno no Paraguai estar no ápice, à temperatura não abaixou muito. O mormaço tropical não deixava esfriar os calores da terra. Por isso, adotei um guarda-chuva e uma jaqueta leve em minhas caminhadas. Passo na frente da casa de Ana todos os dias. Eles moram não muito longe do hotel e, apesar de eu passar por lá quase todas as manhãs e em algumas tardes esporádicas, nunca consegui vê-los. Nem o pai nem a filha. Os locais disseram que eram sós, vivendo em uma casa simples sem nenhum empregado. Em uma vendinha próxima, a dona do lugar me ofereceu docinhos locais e um pouco mais da história de Ana. Segundo a velha índia, ela nunca saia de casa sem o pai e comprava na venda ocasionalmente. Tinha um carro velho, que usava para ir à cidade de vez em quando. Falava mal o espanhol, com um forte sotaque alemão.
Comprei um doce de leite e continuei minha caminhada sem rumo. Pensava em Ana, é claro. Ela tinha uma mãe morta e um pai quase lá. Sempre viveu por aqui, mas mesmo assim, nem consegue falar o idioma local. Os olhos de Ana não me enganaram naquele dia à beira do lago. Eles prometiam mistério e foram sinceros.
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