sexta-feira, 12 de junho de 2009

CAMINHANDO PARA O LAGO


A idéia de morrer nesse lugar, se tornou mais triste após um acontecimento. Estava conversando com o gerente do hotel, na frente da hospedaria, quando uma bela mulher conduzindo um idoso em uma cadeira de rodas passou por nós, rumo ao lago. Os dois pareciam estrangeiros, mas ela dirigia o velho pela rua com familiaridade, como se fizesse o caminho há muitos anos. Quando os dois desapareceram na curva, rumo ao lago, o atendente fofocou a história da mulher e de seu pai. Eram alemães que chegaram depois da segunda guerra mundial, procurando abrigo entre os colonos germânicos locais. A família não morava muito longe, mas era discreta e poucas vezes veio ao hotel. O velho era médico e clinicou na região por muitos anos até sua mulher morrer de câncer. Depois da tragédia, ele e sua filha se tornaram reclusos. O gerente comentou gracejando: - Eles reapareceram depois que o pai ficou velho demais para andar. Ele resolveu se mudar definitivamente para San Bernardino para morrer, mas nunca morre. È um vaso ruim.

Com um sorriso malicioso, o gerente mostrou sua animosidade com a família. Eu percebi, mas preferi não entrar no assunto e continuei a conversa em outra direção até ele resolver ir trabalhar. Eu fui até o lago, esperando ver a mulher novamente. Encontrei o velho e sua filha calados, observando as belezas do lago em silêncio. Ela me viu chegar e, nesse instante, trocamos olhares. Fiquei disfarçando, esperando que algo acontecesse. Tive a sensação boba de que algo mágico poderia acontecer e que talvez, ela falaria comigo. A mulher tinha belos olhos azuis, profundos e misteriosos. Um longo cabelo louro e talvez 50 anos. Eu esperei, mas ela virou a cadeira de rodas do pai e foi embora. Eu continuei observando o lago.

Houve uma época em que a felicidade, mesmo no meio da violência, me parecia possível. Agora, velho e repousando em um lugar pacifico, nunca fui tão descrente da alegria. Estou sozinho, exilado e com uma saúde de ferro. Nem a morte quer me fazer companhia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário