terça-feira, 9 de junho de 2009

O PECADO DOS OUTROS


Foi a providência que me fez encontrar com o coronel Benites, dirigindo um táxi em Assunção. Uma noite, voltando de um bar no centro da cidade, peguei um táxi rumo ao meu hotel. Falando um espanhol tranqüilo, o taxista moveu o carro. Conversamos um pouco, até que reconheci sua voz. Quando ele se virou, tive certeza que era o coronel que eu tinha conhecido durante os anos do Condor na América do Sul. Benites me reconheceu e ficou alegre com o encontro. Enquanto ele me levava ao hotel, lembramos dos velhos tempos e especialmente de uma viagem a Buenos Aires nos anos 70. Naquela época, os serviços de inteligência dos países sul-americanos cooperavam e abatiam, um por um, os grupos comunistas da região. Caíram todos, até os que não eram a favor da violência.

Na época do regime militar de Stroessner no Paraguai, o coronel vivia confortavelmente com sua família em Assunção, sendo bem pago para atuar no combate aos inimigos do ditador. Quando militares derrubaram o governo, Benites percebeu que Stroessner não iria sobreviver e por isso, resolveu ajudar os golpistas. Mas ele não acabou sendo recompensado pelo ato, como me contou: - Pensava em ser general, viver tranqüilo o resto da vida. Uma boa aposentadoria e uma casa no interior.

Infelizmente sua traição compensou e os golpistas resolveram o afastar. Os militares paraguaios ofereceram uma dispensa honrosa e sua aposentadoria, como coronel. Hoje em dia, ele me explicou, dirige o táxi para terminar de criar os filhos e também para fugir das cansativas conversas da esposa. Quando chegamos ao meu hotel, o coronel saiu do carro para apertar minha mão. Não cobrou a corrida e me deu um cartão seu, para caso eu precisasse de alguma coisa. Antes de partir, disse, baixinho: – Se está aqui para se esconder, está fazendo errado...Vá para longe, meu amigo. Na cidade seus inimigos ainda podem encontrá-lo. Devia pensar em um lugar calmo, como San Bernardino.

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