quinta-feira, 25 de junho de 2009
O PÂNTANO
O carro seguia constante pela estrada. Ana não descuidava da direção, apesar do nervosismo. Consultava os retrovisores e a velocidade maquinalmente, porém minhas reclamações abalavam seus pensamentos. O velho gritou, pedindo que respeitasse sua filha. A mulher, ouvindo o tom áspero do pai, se contraiu com medo, mais aflita do que com os meus gritos raivosos. Eu a pressionei: - Você devia dirigir olhando para frente e não para o banco de trás.
Ela se virou para mim. Seus olhos perderam vagarosamente o torpor, deixando-os renascer. Ana tentou dizer alguma coisa, mas sua fala não veio, pois acabou se assustando com um caminhão que vinha no sentido contrário. O carro saiu da estrada, destruiu uma cerca e acabou no charco, verde e lamacento, que cercava a estrada. O impacto com a água me atordoou, mas felizmente o cinto de segurança me protegeu. Tirei-o e procurei o corpo de Ana ao meu lado. Ela tentava se soltar ao mesmo tempo em que buscava salvar o pai. Na sua confusão, entre a própria vida e a do velho, ajudei-a se livrar do cinto e a empurrei para fora do carro, para salva-la. Ela gritava pelo pai enquanto saíamos pela porta, mas eu lhe disse: - Nós não vamos conseguir alcançá-lo, o carro está afundando rápido. Precisamos sair daqui.
Meu braço esquerdo doía e nossos pés mal tocavam o fundo lamacento do charque. Sem poder usá-los, lutei mesmo assim pela minha vida e a de Ana. Ela conseguiu desvencilhar-se do meu braço e voltou ao carro, tentando salvar o pai. Para nossa surpresa, ele já havia conseguido se livrar do cinto e com a ajuda da água, vinha boiando em direção a porta. Ana o ajudou a sair, enquanto eu tentava sair daquele pântano.
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