quinta-feira, 11 de junho de 2009

SOSSEGO MORTAL

O hotel em que estou hospedado é muito interessante. Foi construído em 1888 e até seus móveis guardam muitas histórias. O atendente, em um momento de descontração e tédio, me mostrou a curiosa atração da suíte de lua de mel da hospedaria: um armário onde os casais de várias gerações gravaram juras de amor. O móvel está todo retalhado, com inscrições até dentro das gavetas. Passados tantos anos, muitos dos casais eternizados já estão mortos, ou separados, porém seu amor ficou gravado na madeira, para os supersticiosos das novas gerações.

O atendente também mostrou as fotos da família que construiu o hotel. Eram alemães que ganharam muito dinheiro no Paraguai e resolveram investir no sossego que o lugar podia oferecer. Os paraguaios gostaram da idéia e começaram a construir casas de veraneio no lago, junto às casas dos alemães. Seguiram o progresso e a suposta civilização. No entanto, as fotos me chamaram atenção foram as de uma mulher, loira e alta, que posava ao lado de aviões, armas e tigres. Uma deusa nórdica perfeita, descendente de alemães, mas nascida no Paraguai. Segundo o atendente, ela foi enfermeira durante a guerra do Chaco, entre Paraguai e Bolívia, e também pilotou aviões e criou tigres. Ele disse que a mulher aventureira enlouquecia os homens, porém nunca aceitou ser controlada. Morreu sozinha, abraçada com seus dois tigres de estimação. Perguntei ao atendente: - Ela experimentou uma vida plena, era livre, mas será que foi feliz? Ele respondeu sorridente: - Devia ser, porque morreu louca e sozinha, mas ainda sim, cheia de dinheiro...

A história dela me parecia familiar demais e vi minha vida alinhada com a sua. Será que também morrerei sozinho e louco, nesse lugar pacifico e belo, recebendo uma pensão pelos meus tempos de serviço na inteligência brasileira?

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