Resolvi incluir a casa de Ana no percurso das minhas caminhadas diárias. Por mais que eu tentasse não me envolver, minha consciência não me deixava em paz. E se seu pai fosse realmente um criminoso de guerra? Não foi difícil descobrir o endereço da família com o gerente do hotel, que também me contou o nome do pai: chamava-se Fritz. Ele guardava segredos, sua velhice decrépita era prova. Ninguém tão velho poderia ser inocente. Ainda mais ele, que mal podia respirar. Não sou religioso, mas seu estado devia ser uma punição divina pelos crimes que não pagou na terra.
Fritz poderia ter falsificado seu nome e inventado uma nova identidade. Fugir de sua vida antiga na Alemanha teria sido a parte fácil do acobertamento de seus crimes, o difícil seria escondê-los pelo resto de sua vida. Eu mesmo usava um nome falso no hotel. Havia me registrado com nome de Alberto Aparecido do Nascimento e pago em dinheiro, para não deixar rastros. Inventei também uma história de cobertura, dizendo aos funcionários do hotel que era apenas um fazendeiro viúvo de Corumbá que estava passando uma temporada em San Bernardino, onde eu e minha falecida esposa havíamos tido nossa noite de núpcias. Contava aos funcionários sobre meu casamento feliz e de meus filhos ingratos, que estavam sempre tentando me roubar. Os empregados sentiam pena de minha história e não desconfiavam da mentira. Simpáticos, criticavam os filhos da nova geração, que não respeitam mais os pais. – Maldita juventude, repetiam eles.
No entanto, sabia que essa história não se sustentaria por muito tempo. Logo teria que me mudar também, pois as pessoas desconfiam, mesmo quando convencidas. Fritz deve conhecer essa verdade, por isso vive recluso. A história permanece nebulosa, mas só uma pergunta realmente me interessa: Ana é uma filha caridosa ou uma prisioneira?
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