segunda-feira, 9 de março de 2009

UM COMEÇO


Escrevo porque preciso. Um crime aconteceu e ninguém fez nada para puni-lo. Apenas eu persigo a verdade, por isso vocês terão que acreditar em mim. Uma garota desapareceu aqui no centro da cidade de São Paulo, levada por um homem que invadiu seu apartamento, ao lado do meu, em um pequeno prédio da rua General Jardim. Foi em um final de noite, há quatro semanas. Apesar da gritaria e desespero da moça, que implorava por ajuda, ninguém fez nada para impedir, inclusive eu. Nós viramos as costas, como sempre, e ela se foi. Seu nome era Júlia.

A síndica do prédio, dois dias depois do crime, deu queixa. Registrou o acontecido em um boletim de ocorrência na delegacia da região, como manda a lei. Os policiais não fizeram nada. Ontem, a locadora do apartamento onde a garota vivia, recolheu seus pertences e os encaixotou, como se a enterrasse por definitivo. Quando desocuparam o seu pequeno quarto e sala, sabia o que algo terrível tinha acontecido e que ninguém se importava. Júlia não voltaria.
Não sei muito sobre ela. Tinha uma beleza rural, nordestina, mas era bonita. Sempre a via de cabelos presos e com maquiagem discreta. Seu olhar era furtivo e evitava encarar. Era uma garota tímida. Alugou o apartamento ao lado do meu, há cerca de um ano, e assim fomos vizinhos discretos, nunca trocando mais que poucas palavras. Não a conhecia, essa é a verdade, mas não me furto à responsabilidade de sua vida. Desde ontem seus gritos andam me atormentando, mais do que o comum. Tive até que tomar remédio para conseguir dormir. Para mim ela continua gritando no apartamento ao lado e decidi que ela precisava de descanso, e eu também. Amanhã vou ver a síndica do prédio para tentar saber um pouco mais sobre o caso. Essa história precisa de um fim, por mim e por Júlia.

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