
A síndica do prédio, dois dias depois do crime, deu queixa. Registrou o acontecido em um boletim de ocorrência na delegacia da região, como manda a lei. Os policiais não fizeram nada. Ontem, a locadora do apartamento onde a garota vivia, recolheu seus pertences e os encaixotou, como se a enterrasse por definitivo. Quando desocuparam o seu pequeno quarto e sala, sabia o que algo terrível tinha acontecido e que ninguém se importava. Júlia não voltaria.
Não sei muito sobre ela. Tinha uma beleza rural, nordestina, mas era bonita. Sempre a via de cabelos presos e com maquiagem discreta. Seu olhar era furtivo e evitava encarar. Era uma garota tímida. Alugou o apartamento ao lado do meu, há cerca de um ano, e assim fomos vizinhos discretos, nunca trocando mais que poucas palavras. Não a conhecia, essa é a verdade, mas não me furto à responsabilidade de sua vida. Desde ontem seus gritos andam me atormentando, mais do que o comum. Tive até que tomar remédio para conseguir dormir. Para mim ela continua gritando no apartamento ao lado e decidi que ela precisava de descanso, e eu também. Amanhã vou ver a síndica do prédio para tentar saber um pouco mais sobre o caso. Essa história precisa de um fim, por mim e por Júlia.
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