quarta-feira, 1 de julho de 2009

POBRE GAROTA


Enquanto segurava o travesseiro contra o rosto do velho pensei: “é fácil matar”. O ato em si não é complicado, o mais difícil é admitir a insensatez e se deixar levar pelas emoções, abraçando um caminho sem volta. As circunstâncias às vezes nos impelem, nos empurram nos braços do inevitável. O tiro na cabeça do assassino de Júlia foi uma dessas circunstâncias especiais. Mas esse caso tem a ver com justiça, não vingança. E por justiça eu também segurava o travesseiro no rosto de Fritz. Eu soltei o travesseiro, deixando o velho respirar novamente. Eu queria respostas, por isso disse-lhe: - Eu te deixo viver se me contar o que aconteceu com Ana. Diga-me a verdade, pois eu saberei se mentir. Eu já sei de tudo.

Ameacei sufocá-lo novamente. O velho entendeu que eu iria torturá-lo até ele confessar. “Proteção” foi a primeira palavra que pronunciou. Começou a falar baixinho, justificando o injustificável. O mundo distorcido de Fritz emergia, alterando a verdade, a vida em família e o amor. Ele começou dizendo que Ana se revoltou com a morte da mãe e que quis estudar no exterior. Como pai, quis proteger a garotinha que não conhecia nada além de San Bernardino e Assunção. Ela era frágil demais, não suportaria as decepções da vida e das pessoas. Por isso, ele achou melhor trancar a garota em casa. Fritz dispensou a empregada e passou semanas confinado com a filha dentro de casa. Ele argumentou: - Eu fiquei o tempo todo ao seu lado, explicando porque a mantinha presa. Ela se tornou tímida, pois entendeu os perigos do mundo. No final, Ana entendeu o que fiz por ela.

Eu lhe disse: - Você a forçou a acreditar. Mas isso não quer dizer que algum dia ela acreditou em suas mentiras. Ana fingiu para te enganar, para que não a punisse mais. Não argumente, só confesse. Onde você a mantinha?

Fritz respondeu friamente: - Eu a prendia no quarto. Tapei as janelas, coloquei um trinco em sua porta e tranquei. Abria a porta só para alimentá-la e trocar suas roupas.

O velho finalmente dizia a verdade. Temi pelo que contaria.

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