San Bernardino amanheceu com uma pequena coluna de fumaça, que levava ao céu os restos da casa de Ana. Logo que desci para o café da manhã notei a comoção dos funcionários e quando sai às ruas vi, por mim mesmo, a fumaça cinza e fúnebre. Corri para a casa de Ana já esperando encontrar o pior.
Na entrada da casa, vizinhos e policiais se aglomeravam. Perguntei à vizinha, a que tinha uma venda perto da casa, o que havia acontecido. Ela viu o fogo tomando toda casa rapidamente, por causa da madeira. Ninguém sabia de Ana, nem mesmo os policiais. Eles achavam que seu corpo carbonizado estava entre os escombros, esperando para ser descoberto. “O que causou o fogo?”, indaguei a um policial. O homem respondeu desgostoso, que ainda não sabiam.
De qualquer jeito, não adiantaria saber como ela se queimou. A culpa a consumiu e fez Ana se matar desse jeito horrível. Escolheu uma morte dolorosa, mas que a purificasse de vez, de corpo e espírito. Sozinha e perdida durante a noite, com o resto de sua vida em suas mãos, deve ter se desesperado. Não soube o que fazer com a liberdade que lhe foi oferecida e se matou, selando sua vida com a do pai.
Ninguém sabia a verdade, só as mentiras construídas durantes os anos. As mortes de pai e filha seriam consideradas acidentais. Uma tragédia local, para ser lembrada como uma história pitoresca da região, um caso curioso.
Espero por Benites no hotel, com a conta fechada e as malas na recepção. Queria ir embora logo desse lugar e esquecer a sordidez do ser humano. Mesmo na guerra, onde os crimes mais bárbaros acontecem, eu nunca encontraria tamanha monstruosidade como a de Fritz, que estuprou e torturou a filha por anos. Para ele, Ana não era uma pessoa e sim uma propriedade, livre para ser usada como quisesse. Mais uma vez eu vislumbrava o lado negro das pessoas, mesmo quando não o procurava. O coronel deve aparecer a qualquer momento, por isso me despeço e prometo continuar minha história quando chegar à Bolívia. Que Deus tenha piedade de Ana, e de mim.
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