quarta-feira, 8 de julho de 2009

CONFISSÃO

Combinei com o jovem boliviano que partiria no final de semana para a Bolívia. Benites me levará até o aeroporto, onde eu pegarei um avião. Chegando à capital boliviana, eu devo procurar um hotel, onde um contato irá me encontrar. Tenho dois dias para fazer as malas e acertar minhas contas em San Bernardino.

Fiquei sabendo pelo gerente que Ana e seu pai haviam retornado hoje à sua casa, trazidos por um táxi de Assunção. Ele achou que eu me interessaria, já que tive meu braço quebrado pela mulher. O gerente queria ver confusão, esperava que eu me aproveitasse da situação para fazer alguma coisa contra a família. Eu, para ser sincero, não esperava que os dois fossem voltar juntos a San Bernardino. Imaginei que o velho confessaria ou que Ana acabaria entregando a verdade, com seus ataques de pânico no hospital. Fritz iria para a prisão e Ana ficaria livre.

Fiquei inconformado com a notícia, por isso precisava confirmar se o gerente dizia a verdade. Depois de tudo que descobri, não podia deixar aquela história e continuar como se não conhecesse as suas mentiras. Saí do hotel e fui até a frente da casa de Ana. Fiquei parado alguns minutos, convencido de que tinha que entrar na casa e resgatar a mulher. A casa estava toda fechada e eu imaginava como entraria. Enquanto tentava achar a resposta, Ana abriu uma janela e me encarou por alguns instantes. Ela perguntou o que eu queria. Eu lhe respondi, automaticamente: - Eu só queria saber se você está bem.

Ana corou. Confirmou seu bom estado e esperou por minhas palavras. Mas eu não tive coragem de lhe dizer nada. Eu queria consolá-la, contar que sabia de seu sofrimento, mas ela havia voltado para casa com o pai. Sua chance de contar a verdade e denunciar o pai tinha sido no hospital. Talvez os médicos não imaginassem os abusos, nem viram seus sinais, mas o fato é que ela não pediu ajuda. Eu lhe disse, esperando por uma resposta: - Ana, eu vim lhe pedir desculpas. Seu pai me convenceu de que você não é culpada pelos acidentes que ocorrem comigo. Ele me falou tanto de você, contou tantos detalhes de sua vida que me convenci. Sinto entender toda a sua vida, você é inocente.

Eu fiz uma pausa. Continuei: - Bom, vou embora. Só queria me despedir e resolver nossos mal-entendidos. Não queria que você ficasse com uma má impressão de mim. Sou apenas um homem, tentando fazer o que é correto. Às vezes me excedo, porém sempre tento me manter fiel à verdade. Desculpe se errei, mas agora terei de deixá-la.

Dei um passo atrás e lhe disse, melancolicamente: - Preciso ir embora, espero que você e seu pai possam viver em paz, juntos, pelo resto de suas vidas. E tenho certeza que vocês ainda viverão muitos anos juntos, pois o doutor é forte. Vai viver para sempre.

A mulher ficou confusa, mas pareceu entender o que eu lhe dizia. Ela desviou o olhar e fechou a janela, encerrando nossa conversa.

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