Sentei na varanda do hotel, com um cigarro e uma cerveja. Eu fiquei olhando o lago, absorto em meus pensamentos. Estava feliz, dizendo a mim mesmo que na Bolívia minha vida seria perfeita. A guerra sempre proporciona espólios para seus participantes e eu teria o que quisesse.
Começava a cochilar quando o balconista do hotel rompeu pela porta e ma avisou que uma mulher queria falar comigo. Meu coração acelerou, pois só poderia ser Ana. Ela me esperava na frente do hotel, com uma roupa branca e cabelos soltos. Quando me aproximei, seus olhos tristes me fitaram. Ana pediu para conversar em particular, à beira do lago. Ela partiu e eu a segui, ainda meio atordoado. Andamos alguns metros até ela parar perto do pequeno píer do hotel. Ana cruzou os braços e me perguntou sobre os meus ferimentos. Eu lhe respondi, suavemente: - Vão melhorar. Ainda há esperança para mim.
Ela sorriu, satisfeita com a constatação. Não sabia que eu já conhecia a sua história, e disfarçava segurança. Não gritou pedindo ajuda, preferia ajudar a manter a mentira. Eu disse a ela: - Você é uma verdadeira heroína, Ana. Deve ser mais forte que a maioria dos homens.
Queria que ela gritasse, confessasse os abusos. Mas ela permaneceu calada. E eu não me segurei: - Seu pai falou muito de você no hospital. Disse que você é o maior amor de sua vida. Ele disse que lhe amava muito, desde que você era adolescente.
A mulher ficou perturbada. Disse que tinha que ir embora e desejou boa sorte. Antes de ela ir, ofereci: - Estou indo embora neste final de semana, por isso gostaria de oferecer um último favor. Gostaria de ajudá-la, afinal, não foi por isso que você veio me procurar?
Minhas palavras assustaram Ana. Ela pedia ajuda, embora não falasse. Eu me aproximei e ofereci minha companhia até a sua casa.
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