Ainda tenho tido dificuldades para dormir. Nessa última semana tenho tido muitos pesadelos. Na verdade é sempre o mesmo: a cidade está lá imóvel e dos bueiros surge uma sombra escura que começa a se espalhar dentro das casas, comércios e apartamentos. É tudo muito rápido e toma São Paulo em poucos instantes. Ela vem a minha porta e escorre pelas frestas até me dominar. Acordo assustado, no meio da noite, procurando pela minha arma, que está sempre no meu criado mudo. Desde que a retirei do armário, para ir conversar com a amiga de Júlia no supermercado não consigo me afastar dela. Mantenho-a carregada e limpa em casa e quando saio à rua, a coloco em um coldre preso ao meu cinto. É um revolver pequeno, fácil de esconder. A arma tem me feito companhia nos diversos lugares tenebrosos que tenho freqüentado para descobrir o assassino de Júlia. São ambientes horríveis e deprimentes, onde se vende carne como em um açougue. As ruas onde as garotas fazem ponto também são uma desgraça e nelas, as meninas estão sempre com medo. O centro era uma poça de degradação para todos, do prefeito ao menino de rua. Se o coração da cidade está neste estado de putrefação, como estaria o resto da cidade?
Já fui me encontrar com Suelen e Janice. Na parte da tarde estive no bar onde Janice controlava suas garotas. Ela me falou de um homem que aparecia de vez em quando e que sempre queria uma garota diferente, dificilmente repetindo uma. Era moreno e de estatura média e andava em uma caminhonete. Já tinha agredido uma garota, mas ainda assim tinha a cara de pau de continuar aparecendo. Ele se encaixava na história do assassino, a não ser pelo seu carro. Mas isso seria simples de contornar, ele poderia simplesmente ter alugado um veículo. Mais tarde me encontrei com Suelen e ela me falou de um homem moreno que gostava de freqüentar o ponto de sua falecida amiga. As garotas do lugar diziam que ele estava meio sumido, mas que tinha voltado a aparecer. A mesma história que a de Janice, até com algumas garotas agredidas, mas só que com nomes diferentes. Ele devia dar um nome distinto em cada lugar. Pedi a cafetina e ao travesti para me avisar se ele aparecesse.
Procurei mais um pouco pela região até chegar a um leão de chácara de uma boate do centro. Por R$ 20 ele me contou a história de um freqüentador expulso há alguns meses. Esse homem tinha tentado levar uma garota para seu carro à força antes que os seguranças o jogassem na rua. A descrição que o segurança me deu foi igual ao do homem que agredia mulheres, dada por Janice e Suelen.
Acho que estava na pista certa, só precisava de uma identificação positiva. Continuei freqüentando os inferninhos e pontos de rua. Às vezes avistava um suspeito, mas como ter certeza de que era mesmo o homem que procurava? Sabia que ele estava procurando a próxima vítima, mas precisava ter certeza.
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