sábado, 4 de abril de 2009

ARMANDO UMA ARMADILHA

O nome do ex-namorado de Júlia é Renato. Ele trabalha em uma oficina mecânica aqui no centro e eu fui procurá-lo no final da tarde de ontem. O peguei indo embora, rumo ao metrô. Os funcionários da oficina fechavam o estabelecimento e perguntei por Renato a um mulato. Ele apontou para o ex-namorado de Júlia. Eu fui até ele e me identifiquei dizendo que um amigo havia recomendado a oficina, e que havia mencionado seu nome. Comentei que queria comprar um carro, mas precisava de alguém de confiança para avaliar o estado do veículo. Ele coçou a cabeça, tentando se livrar de mim. – Agora tá tarde por que você não volta na segunda, na parte da manhã?

A conversa pareceu promissora, mas antes desse primeiro contato com Renato, eu já tinha pedido a Valdir que fizesse uma consulta entre os taxistas, para saber o que se dizia dele. Descobri que todos os que o conheciam falavam de seu jeito quieto. Consideravam-no um sujeito honesto e um mecânico habilidoso. Um homem muito organizado com suas ferramentas me disse Valdir, citando outros colegas. Pelo arquivo do caso de seqüestro de Júlia, feito pela polícia, ele não tinha antecedentes e tinha um bom álibi. Renato disse aos investigadores que estava em casa no dia do crime e seus pais confirmaram a história. Parecia tudo em seu lugar, mas que pai não mentiria por seu filho, se ele pedisse?

Também tinha ido a sua residência. Observei por um tempo a casa assobradada onde mora, junto com o pai e mãe, na região de Santa Cecília. Era uma casa simples. Eu até consegui ver sua mãe, uma senhora pequena e magrinha, que devia ter uns 70 anos. Esperei anoitecer para ver Renato entrar na casa.

Na noite seguinte, ainda na fase observatório, voltei para frente da casa de Renato. Não esperava conseguir nenhuma informação, pois o máximo que ia ver era ele entrando em casa. Mesmo assim fiquei esperando o rapaz chegar. Quando apareceu, ele não foi para casa, mas para um bar que ficava ao lado. Fiquei do outro da rua, observando-o de uma pizzaria que tinha dois andares. Fiquei enrolando, porém uma hora tive que sair, e ele ainda continuava enfurnado no bar. Depois de três horas ele saiu, se apoiando nas paredes de tão bêbado, tentando chegar em casa. Eu me apressei para entrar no bar. Cumprimentei o balconista, pedi uma cerveja e fui logo reclamando do bêbado que saiu. O atendente também aproveitou para criticar o homem. Perguntei se conhecia o bebum e ele comentou que fazia pouco tempo que o ex-namorado de Júlia aparecia para encher a cara. Disse que não falava nada, só ficava bebendo no seu canto quieto. Eu comentei. -Deve ser dor de corno.

O balconista riu, mas disse que Renato nunca havia comentado nada. Ele só ficava ali se embebedando. Aquele comportamento não estava adequado com o de um evangélico. Talvez Renato estivesse com a consciência pesada.

Com tudo isso em mente, passei incontáveis horas procurando uma solução para o problema de como conquistar Renato, porque era o único jeito dele me contar coisas íntimas, que não contaria a mais ninguém. Tenho um plano, mas uma coisa dessas é difícil de realizar e vai tomar algum tempo. Quando se planta um espião, ou uma “topeira” como dizem os americanos, é preciso lhe dar tempo para se aproximar e ver onde estão as rachaduras, as arestas onde trabalhar.

Eu sabia que tirar alguma informação de Renato seria difícil. Ele é do tipo fechado, mas eu preciso fazer ele confessar.

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