quinta-feira, 16 de abril de 2009

CAÇADOR DE MULHERES

Ontem tive certeza que vi o assassino. Eu estava conversando com três garotas que ficavam fazendo ponto próximas à Praça da Sé, em frente a pequena igreja de São Gonçalo. As mulheres ficavam mesmo na frente da construção sagrada vendendo seus corpos, a qualquer hora, de dia ou à noite. Eu estava lá, umas 22h, tentando conseguir informações com notas de R$ 20. Enquanto conversávamos uma das garotas olhou para trás de mim e viu um homem se aproximando. Ela fez uma cara de desgosto e avisou as outras garotas. Todas olharam e eu também me virei para encarar a figura. Era um homem moreno, meia idade e de estatura média. Eu segurei a garota que primeiro viu o homem e a puxei para o lado. As outras duas que ficaram paradas foram abordadas pelo homem. Eu perguntei por que a garota tinha ficado chateada com a chegada do indivíduo. Ela reclamou que ele já tinha sido “duro” com ela. Eu perguntei o que ele fez. A garota, de no máximo 20 anos e cabelos louros tingidos, me contou que ele tentou forçá-la a entrar no seu carro, ao invés de usar um hotel ao lado, como era costume. Ele havia ficado bravo e tinha a empurrado no chão.

Escutei a história da garota enquanto o homem ia para o hotel com uma das prostitutas. Eu resolvi ficar por perto e esperar ele terminar o programa. Procurei seu carro com a ajuda da prostituta. Era uma caminhonete preta, com aparência cara. Se não fosse roubada, o homem andava bem de vida. Fiquei escondido no quiosque de flores que fica ao lado da igreja, onde ele havia estacionado. Pensei no que eu ia fazer, mas sabia que não podia perder o homem que poderia ser assassino de Júlia. Resolvi interrogá-lo de uma maneira muito peculiar, que aprendi nos anos de serviço.

O homem demorou uns 20 minutos. Saiu andando devagar, cheio de alegria. Esperei ele passar por mim para poder segui-lo de perto. Ele andou alguns passos antes de sentir que eu estava andando sorrateiramente em suas costas. O homem acionou o alarme e apressou o passo rumo ao carro. Antes de ele colocar o pé na rua eu disse para ele, em tom firme. – Espere, senhor.

Ele se virou em minha direção, mas eu não o deixei ver meu rosto. Eu disse – Entra no carro. Rápido, que eu tenho uma arma.

A essa altura, apesar de nem ter percebido, eu já estava com o revólver apontando. Minha mão estava firme e meu dedo no gatilho, com uma segurança que nem sabia que tinha em mim. Agora éramos só nós dois, um contra o outro. Eu disse. – Vamos, senta no assento do motorista.

Ele seguiu as instruções. Eu o mandei não ligar o carro e sentei no banco atrás do seu. Também falei para ele virar o espelho central, para não poder me reconhecer. Ele obedeceu. Eu disse. - Me passa a sua carteira. Devagar.

Ele tirou a carteira do bolso e me entregou. Eu ordenei. - Ligue o carro. Pegue a esquerda e siga para o Anhangabaú.

O homem obedeceu e só quando ele virou a rua, e me certifiquei que ninguém tinha nos visto, pude olhar a sua carteira. Era fina e muito bem preparada. Tinha bastante notas trocadas, especialmente as de R$ 20, e não tinha nenhum documento nem cartões de banco. Eu perguntei. – Você é policial, não é?

Ele respondeu que não, secamente. Eu continuei. – Você é policial sim. Sua carteira não tem documento, o dinheiro foi preparado. Me dá a sua arma!

O homem ficou calado alguns instantes e depois disse, tentando explicar. – Eu não sou policial não, você está me confundindo. Eu só vim comer uma puta.

Eu o interrompi e disse. - Me dá a sua identidade. Onde está?

Ele a pegou no gabinete do carro e me entregou. Eu perguntei. – Se você não é policial porque esconde a identidade no carro?

Ele respondeu. – Para não perder ou ser roubado por uma puta. Só levo o necessário.
Eu o mandei mudar o destino e seguir rumo à praça da República. O ameacei de novo dizendo que se ele fizesse alguma coisa, iria morrer. Recomecei a conversa. – Só um policial, em missão, seria tão profissional para pegar uma prostituta. Você está me enganando. Acho que estava xeretando no comércio noturno da região.

Ele negou – Eu já disse que não sou policial. Só vim comer uma puta, entendeu?

Eu gracejei. – Então deve ser o maior e mais sábio comedor de puta da cidade. Um verdadeiro profissional.

Ele não respondeu então eu continuei. - Então, senhor comedor de putas, gostou da garota lá da Sé?

Ele respondeu, calmamente. – Era boa sim. Agüentava bem o tranco.

Eu lhe dei corda. – Então você conhece de putas, saí com muitas delas?

Sua voz mudou nesse instante e ele disse confiante. – Eu gosto bastante. Elas são uma solução barata e rápida para o problema masculino.

Eu perguntei. – E qual o problema dos homens?

Ele disse, com um risinho. - Precisamos satisfazer nossas necessidades, se não explodimos.

Eu dei uma risada simpática e continuei. – E é preciso muitas mulheres para satisfazer a sua necessidade?

Ele disse. – Quantas eu puder encontrar.

Com sua identidade e carteira na mão, pedi que ele encostasse o carro próximo da estação de metrô. Eu lhe disse. - Ainda não sei se você é policial ou não, mas não apareça mais nessa região. Se você voltar eu vou ter certeza de que você é um policial. Agora desligue o carro.

Eu o mandei ficar com a cabeça baixa, com as mãos no volante por alguns minutos. Abri a porta e sai me misturando com as outras pessoas na rua. Desviei do metrô e peguei o primeiro táxi que vi. Ele não daria queixa na polícia e agora tinha um suspeito e sua identidade.

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